quarta-feira, 16 de abril de 2008

V CURSO DE EXTENSÃO DO DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA/UFS - "MODELOS DE HISTÓRIA CULTURAL

V CURSO DE EXTENSÃO DO DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA/UFS - "MODELOS DE HISTÓRIA CULTURAL"

Local: Museu do Homem Sergipano - Rua Estância, 228 - Centro - Aracaju/SE - Telefone: (79) 3211-5798
Apresentação: O diálogo com a História Cultural, redescoberta na década de 70 do século vinte, e as variedades de objetos e métodos de estudo, vêm ganhando relevo nas produções historiográficas e se constituem, por essa razão, o ponto central de articulação deste Curso de Extensão. Os diferentes modelos de História Cultural apontam para uma extensa e variada produção que suscita, entre os historiadores, simpatias e críticas que caracterizam as diferenças, os conflitos, os debates, e, também, os interesses e tradições compartilhados que regem e constituem a dinâmica do campo. De uma forma geral, a história da História Cultural "pode ser dividida em quatro fases: a fase clássica, que tem seu início no final do século XVIII; a fase da história social da arte, que começou na década de 1930; a descoberta da cultura popular, na década de 1960; e a nova história cultural" (BURKE, 2005, p. 15). Divisões estas não tão claras à época e que merecem atenção pela necessidade de se identificar as diferentes tradições que sustentam os trabalhos dos historiadores culturais. A organização deste curso consistirá na realização das reuniões quinzenais nas quais serão apresentadas Modelos de História Cultural por professores pesquisadores que vêm se conduzindo suas investigações por essas perspectivas de análise. O Curso é destinado aos alunos do Curso de Graduação em História, professores de História, pesquisadores e a todos que queiram participar dos debates. Calendário de Conferências: 23/04 - Tema: Gilberto Freyre como precursor da História Cultural Prof. Dr. Francisco José Alves (DHI/UFS) 07/05 - Tema: Norbert Elias, Historiador da Cultura Prof. Dr. Jorge Carvalho do Nascimento (DHI/UFS) 21/05 - Tema: A História Cultural e os Estudos Biográficos Profª. Drª. Anamaria Gonçalves Bueno de Freitas (DED/UFS) 04/06 - Tema: A História Cultura segundo Chartier Prof. Dr. Luiz Eduardo Meneses Oliveira (DLE/UFS) 18/06 - Tema: Pierre Bourdieu, a História Cultural e a pesquisa em História da Educação Profª. Msc. Evelyn de Almeida Orlando (DHI/UFS) 02/07 - Tema: Stuart Hall e o conceito de "cultura popular negra" Prof. Dr. Petrônio Domingues (DHI/UFS) 16/07 - Tema: A Psicologia Histórica de Jean-Pierre Vernant Prof. Dr. Alfredo Julien (DHI/UFS) 30/07 - Tema: Bakhitin: História e Literatura Prof. Dr. Fábio Maza (DHI/UFS) 06/08 - Tema: O Materialismo Histórico de Raymond Williams Prof. Dr. Fernando Sá (DHI/UFS) 20/08 - Tema: "Protagonistas anônimos" da História e "comunidades": reflexões teórico-metodológicas a partir da obra de Giovanni Levi Prof. Dr. Antônio Lindvaldo Sousa (DHI/UFS) Objetivos: Oferecer a graduandos e graduados em História, subsídios para reflexão do ponto de vista teórico-metodológico no exercício da pesquisa histórica. Complementar a formação de graduandos e graduados em História, aprofundando a História Cultural, teoria que vem ganhando relevo nas últimas décadas no campo acadêmico. Fomentar a investigação científica, contribuindo com o professor-pesquisador em suas produções historiográficas. Informações: O Curso terá carga horária de 30 horas e a obtenção do certificado estará condicionada à freqüência mínima de 75% da carga horária total. A periodicidade dos encontros será quinzenal. Horário: 15 às 18 horas Inscrições e informações: Secretaria do DHI 08h às 12h; 14h às 17:30 Telefone: (79) 2105-6739 Valor da inscrição: R$ 25,00 até 10/04/08 R$ 30,00 até 07/05/08 Realização: Universidade Federal de Sergipe Departamento de História Organização e coordenação: Prof. Dr. Fábio Maza Profª. Msc. Evelyn de Almeida Orlando Prof. Msc. Luiz Eduardo Pina Lima Apoio: ANPUH/SE Museu do Homem Sergipano Diretório Acadêmico Livre de História .

UFS - III Semana de Estudos da Graduação começa dia 10/6

III Semana de Estudos da Graduação começa dia 10/6



A III Semana de Estudos da Graduação (III Segrad) tem como tema "40 anos de UFS: trajetórias e perspectivas". Partindo da realidade universitária, o evento pretende buscar alternativas para integração dos diferentes saberes e suas contribuições para o campo de formação, permitindo desse modo o avanço da ciência e a melhoria do ensino de graduação da UFS.Os professores e chefes de departamento têm até o dia 14/4 para encaminharem sugestões de mesa-redonda, palestra e minicurso. O período para inscrição de trabalhos (normas na página da Segrad (www.ufs.br/segrad) é de 28/4 à 13/5, e no dia 29/5 haverá a divulgação dos trabalhos aprovados.A semana dispõe também de atividades como mesas-redondas, minicursos, palestras e oficinas.


De 10/06 a 13/06/2008


Programação10/67h30 - Abertura10h - Conferência de Abertura: 40 anos de UFS: trajetórias e perspectivas13h às 15h - Minicursos15h30 - Mesa redonda: O papel histórico dos centros na construção da Universidade Federal de Sergipe19h às 21h - Minicursos11/68h - Palestras e mesa-redonda10h - Minicursos e oficinas13h às 15h - Minicursos e oficinas16h - Comunicação oral19h às 21h - Palestras e minicursos12/68h - Palestras e mesa-redonda10h - Minicursos e oficinas13h às 15h - Minicursos e oficinas16h às 18h - Comunicação oral18h30 - Atividade cultural e lançamento de livros19h às 21h - Palestras e minicursos13/68h às 10h - V Seminário de Monitoria15h às 17h - Palestra de encerramento17h - Atividade cultural e entrega de certificados.


Organização: Departamento de Apoio-Pedagógico (Deape). Contato: 2105 6456/6457

Fonte: www.ufs.br

CORDEL, O GRITO POPULAR

GILFRANCISCO: jornalista, professor da Faculdade São Luís de França e membro do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe. gilfrancisco.santos@gmail.com

Na Idade Média, quando ler e escrever eram privilégio de monges e de poucos nobres, os fatos e acontecimentos mais importantes da vida social perpetuavam-se pela poesia popular. E então era os Castelos sombrios dos senhores feudais o palco comum em que se cantavam os feitos, a bravura e o amor dos cavaleiros da sociedade medieval. Portanto os inícios da literatura de cordel estão ligados à divulgação de histórias tradicionais, narrativas de velhas épocas, que a memória popular foi conservando e transmitindo: são chamados romances ou novelas de cavalaria, de amor, de narrativas de guerra ou viagens ou conquistas marítimas. Mas ao mesmo tempo, ou quase ao mesmo tempo, também começou a aparecer no mesmo tipo de poesia e de apresentação, a descrição de fatos recentes, de acontecimentos sociais que prendiam a atenção da população.
O primeiro estudioso brasileiro a indicar essas fontes, para as narrativas em versos e registros de fatos memoráveis em folhetos, foi nosso mestre, Luis da Câmara Cascudo (1898-1986), em vários livros e ensaios. Produziu uma obra fundamental para os estudos etnográficos e antropológicos no Brasil. Literatura de Cordel, denominação dada em Portugal e difundida no Brasil pelos colonizadores, é poesia popular, é história contada em versos, em estrofes a rimar, escrita em papel comum feita pra ler ou cantar. A capa do folheto é feita em xilogravura, trabalho artesão que esculpe em madeira um desenho com porção preparando a matriz para fazer reprodução.

Literatura de Cordel, denominaçãqo que se deve ao fato de os folhetos ficarem expostos à venda dependurados em barbantes ou cordéis como ainda acontece em certos pontos do Brasil, já nos veio de Portugal – onde anteriormente existiam as “folhas volantes” ou “folhas soltas” – (na Espanha, a literatura de cordel era chamada de pliegos sueltos), e se apresenta desde há muito com características peculiares à nossa realidade, conservando alguns traços dos tradicionais romances que nos trouxeram os colonizadores.

Os folhetos falam dos acontecimentos, do amor, luta e mistério, de fé e do desassistido. Mas, graças às recomendações do Ministério da Educação para que os professores de língua portuguesa também abordem o tema em suas aulas, é que têm sido publicados muitos livros sobre literatura de cordel, bem como centenas de folhetos. Seguindo essa tradição nordestina, e utilizando o Cordel como um instrumento pedagógico na sala de aula, é que o poeta e professor santabarbarense (BA), Antonio Carlos de Oliveira Barreto, tem publicado vários folhetos voltados para a Educação, tais como: Uma experiência de cordel na sala de aula; A história do aluno preguiçoso que não gostava de estudar; Aula de Barroco em Cordel, A peleja da Sabedoria com a Internet; Discutindo a Lei 10.639 na sala de aula; Reflexões Pedagógicas nas trilhas de Alicia Fernandez; O aluno que não queria crescer; O patinho feio nas ondas da Internet; Carta ao presidente Lula pedindo a inclusão do Cordel na sala de aula; O valor da Arte na Educação; A consciência ecológica que os nosso filhos precisam ter; Detalhes da escravidão em Casa Grande & Senzala; Mentiras que o povo gosta em época de eleição; O aluno que vivia a 1000 por hora ( um caso de hiperatividade) e tantos outros. Todos publicados pelas Edições Akadicadikum, (acobar@bol.com.br) .

Literatura oral – Esse termo foi criado por Paul Sébillot (1846-1918) no seu Litérature Orale de la Haute Bretagne, 1881, onde reúne contos, lendas, mitos, advinhações culturais, de fundo literário, transmitidas por processos não gráficos. As formas conservadas escritas e mesmo registradas são sempre minoria, como meio de circulação temática. Assim Literatura Oral compreende dança e canto e mesmo os autos populares, conservados pelos povos oralmente, embora conheçamos fontes impressas.

O mito na história da civilização é um conjunto de lendas e narrações que referem personagens e acontecimentos anteriores aos fatos históricos conhecidos e que, por isso mesmo, se entretecem com episódios maravilhosos e fantásticos. Há muitos cosmogônicos, divinos, heróicos: os primeiros são tentativas de explicação do aparecimento do universo, e, principalmente, do homem no mundo; os segundos se referem a deuses; os últimos a semi-deuses e super-homens. Portanto, Literatura Oral é o conjunto das lendas e/ou narrativas transmitidas por tradição.

Segundo o folclorista Câmara Cascudo, a literatura oral brasileira se comporá dos elementos trazidos pelos três raças para a memória e uso do povo atual. Indígenas, porturgueses e africanos possuíam cantos, danças, estórias, lembranças guerreiras, mitos, cantigas de embalar, anedotas, poetas e cantores profissionais, uma já longa e espalhada admiração ao redor dos homens que sabiam assim falar e entoar.

Literatura de cordel – Pode-se dizer também que este tipo de poesia está relacionado ao romanceiro popular, a ele ligando-se, pois se apresenta como romances em poesia, pelo tipo de narração que descreve. A presença da literatura de cordel no Nordeste tem raízes lusitanas; veio-nos com o ramanceiro penisular, e possivelmente começam estes romances a ser divulgado, entre nós, já no século XVI, ou no mais tardar, no XVII, trazidos pelos colonos em suas bagagens.
Estas “folhas volantes” ou “folhas soltas”, decerto em impressão muito rudimentar ou precária, eram vendidas nas feiras, nas romarias, nas praças ou nas ruas. Nelas registravam-se fatos históricos ou transcrevia-se igualmente poesia erudita. Gil Vicente, por exemplo, nela aparece. Divulgavam-se, por intermédio das folhas volantes, narrativas tradicionais, como a Imperatriz Porcina, Princesa Magalona, Carlos Magno. Tudo isso se evidenciou, se transladou com o colono português para o Brasil, nas suas naus colonizadoras, com os lavradores, artífices, agentes do povo; e, esta tradição de romanceiro, se fixaria no Nordeste como literatura de cordel.

João de Calais - Novela popular de aventuras fantásticas de autoria de Madame de Gómez, nome literário de Magderleine A. Poisson, escritora francesa (1684-1770), incluída em sua obra Os dias divertidos (Vol II, Paris, 1723). Traduzida para o português, gozou de extrema popularidade tanto em Portugal como no Brasil. A primeira edição da tradução portuguesa é de 1783, e omite o nome do autor e do tradutor. Tem sido publicada no Brasil desde 1840. Esse herói popular é retratado na voz do cego Oliveira, cantador de feira que viveu no Crato, Ceará, com sua rabequinha, ia cantando ganhando a vida confira no disco Nordeste: Cordel, Repente,Canção em uma de suas faixas (O verdadeiro romance de João de Calais (editor proprietário João José da Silva).
Eu peço a vossas mercês
e todos que me aprecia
hoje na data do mês
porque não vejo a luz do dia
homem, menino, mulher,
cada um dá o que puder

proteja a minha bacia.
Desafio ou Peleja – A cantoria repentista é um desafio entre algumas pessoas, na maioria das vezes duas pessoas, no qual cada um tem de encontrar uma resposta para os versos de desafio do oponente, sem fazer uma pausa muito grande para reflexão. As estrofes são em geral improvisadas, mas freqüentemente os cantadores empregam também passagens tradicionais aprendidas de cor, quando convém ao contexto do tema tratado. Esta disputa – chamada desafio, peleja, discussão – termina quando um dos adversários já não é capaz de encontrar uma réplica instantânea.

Segundo Luis da Câmara Cascudo é a “Disputa poética, parte de improviso e parte decorada, entre os cantadores. É gênero que recebemos de Portugal e conhecido em todo o Brasil, mantido especialmente no Nordeste brasileiro, mais no sertão que na orla litorânea. Os instrumentos de acompanhamento são a viola e a rabeca no Norte, e a safona, o violão, no Sul, sem que se possam fixar preferências”. O desafio é o canto amebeu dos pastores gregos, dueto de improvisação entre pastores, canto alternado, obrigando resposta às perguntas do adversário. A técnica do canto amebeu fora empregada por Homéro na Itália e na Odisséia.

Os desafios têm lugar em feiras semanais e quermesses, às vezes também em casas de nordestinos abastados. Os ouvintes pagam aos cantadores de acordo com a presença de espírito demonstrada. O vencedor recebe do assistente dinheiro extra para bebida. Estes desafios duram muitas vezes horas, às vezes até dias. Por esta razão, alteram-se freqüentemente a métrica e a forma das estrofes, para não entediar demais o público e também, naturalmente, para confundir o adversário com uma métrica complicada, já que este fica obrigado a responder dentro da mesma estrutura.

Martelo – Gênero de desafio dos cantadores nordestinos cantado velozmente, numa verdadeira torrente de rimas, num martelar sem pausa, - como um ferreiro a malhar o ferro incandescente numa bigorna. Parece-nos que o tipo de martelo mais antigo era uma décima com redondilhos menores.

Atualmente o martelo é formado com estrofes de decassílabos e alguns estudiosos associam a sua denominação a Pedro Jaime Martelo (1665-1727), professor de literatura na Universidade de Bolonha, diplomata e político. O tipo mais usado pelos cantadores é o martelo agalopado. Contendo estrofes de dez versos decassílabos, na disposição ABBAACCDDC, isto é, onde o 1º rima com o 4º e o 5º, o 2º com o 3º, o 6º e o 7º com o 10º, e o 8º com o 9º, com acentuação tônica na 3ª, 6ª e 10ª sílabas. Esta modalidade é também chamada de Martelo em dez.
Quando eu canto o martelo a pedra estala
Se engrossa o firmamento, a lua geme,
Fica o mundo amarelo cor de creme,
As marés se agitam, o mar se abala,
Bacharel na tribuna perde a fala,
Todo povo que vê fica parado,
Pregador no sermão fica calado
Para ouvir meu sermão em cantoria,
E a noite realça igual ao dia
Quando eu canto o martelo agalopado.

Estudando o martelo agalopado, diz Cavalcante Proença que “o nome dado pelo povo a esse metro fica, em parte, compreensível: agalopado, porque a presenta dois tempos de galope 3+3, em hora se alargue num segmento final de quatro sílabas. Um vaqueiro só poderia defini-lo em termos de andadura de cavalo: dois tempos de galope (3+3) e dois de trote curto para esbarrar o animal (2-2).

Beira-Mar
Zé Ramalho, do livro Apocalypse.
Eu entendo a noite como um oceano
Que banha de sombras o mundo de sol
Aurora que luta por um arrebol
De cores vibrantes e ar soberano
Um olho que mira nunca o engano
Durante o instante que vou contemplar
Além, muito além onde quero chegar
Caindo a noite me lança no mundo
Além do limite do vale profundo
Que sempre começa na beira do mar
Por dentro das águas há quadros e sonhos
E coisas que sonham o mundo dos vivos
Peixes milagrosos, insetos nocivos
Paisagens abertas, desertos medonhos
Que fazem o homem se desenganar
Há peixes que lutam para se salvar
Daqueles que caçam em mar revoltoso
Outros que devoram com gênio assobroso
As vidas que caem na beira do mar
Até que a morte eu sinta chegando
Prossigo cantando beijando o espaço
Além do cabelo que desembaraço
Invoco as águas a vir inundando
Pessoas e coisas que vão arrastando
Do meu pensamento já podem lavar
No peixe de asa eu quero voar
Sair do oceano de tez poluída
Cantar um galope fechando a ferida
Que só cicatriza na beira do mar

Romance Popular – São poemas em versos octossílabos (pela versificação castelhana e setessílabas pela nossa) refundidos e recriados nos séculos XV e XVI, com rimas assonantes nos pares, e os impares livres, vindos dos séculos X, XI, XII, com as canções de gestas, registrando as façanhas guerreiras de espanhóis e franceses. Foram poemas feitos para o canto nas cortes e saraus aristocráticos, e não a poesia democrática e vulgar, feita para o povo.

No século XVI, a recriação foi um processo de acomodação do gênio popular e muitos motivos surgiram, dentro dos metros e modelos passados, verificados ao sabor do gosto popular, mas fiéis aos tipos antigos. Passaram as assonâncias e tonâncias as rimas simples, e neste caráter o romance teve voga extraordinária cantada e trazida para o Brasil, como para toda a América espanhola, pela memória do colonizador.

O século XVI foi à época do Romance em Portugal e justamente a fase do povoamento do Brasil. Os romances vieram, cantados e resistiram até possivelmente o século XVIII, quando foram esquecidos no uso, mas não nas memórias coloniais. O Romance em versos “Luar de Sepé”, segundo a lenda, Nicolau Nheenguiru, o terceiro cacique deste nome, tornou-se o famoso Nicolau I, Rei do Paraguai e Imperador dos Mamelucos. Enquanto que José Tiaraiú, cognominado Sepé, transformou-se no “São Sepé” da tradição gaúcha, é tratado no romance popular, transcrito por Simões Lopes (Lendas do Sul. Pelotas, Echenique & Cia, Editores, 1913).

Este romance missioneiro, cujo tema da guerra, serviu de igualmente para Basílio da Gama (Uraguai, 1769), é uma espécie de “resposta apologética”, constituindo um documento valioso para a compreensão do sentimento provocado entre a gente missioneira pela transmigração desastrosa dos Povos e a matança dos pobres índios em Caiboaté. Em verdade, a história das Missões ainda está por fazer. Augusto Meyer tem opinião divergente, achando que a extraordinária importância atribuida a Sepé na tradição riograndense não corresponde ao que nos revelam os documentos conhecidos até a data. (Prosa dos Pagos. Rio, Editora Presença/MEC, 1979). São Sepé foi também transformado por Érico Veríssimo em personagem, do romance O Tempo e o Vento.
Romance da Bela Inês
Alceu Valença

Uma musa matriz de tantas músicas Melindrosa mulher e linda e única Como o lado da lua que se oculta Escondia o mistério e a sedução Comovida com a revolução De Guevara, Camilo e Sandino Escutou me Espelho Cristalino Viajou nosso sonho libertário Bela Inês, com seu peito de operário A burguesa que amava o Capitão Acontece que a história não tem pressa E o amor se conquista passo a passo O ciúme é a véspera do fracasso E o fracasso provocar o desamor Bela Inês teve medo do 'condor' Queimou cartas. lembranças do passado E nessa guerra de Deus e do diabo Entre fogo cruzado desertou Bela Inês, com seu peito de operário Não me esconde seu ar conservador Mas eu tenho um espelho cristalino Que uma baiana me mandou de Maceió Ele tem uma luz que me alumia Ao meio dia, clareia a luz do sol Apesar dos pesares não esquece Nosso sonho real e atrevido Bela Inês tem o peito dividido Entre um porto seguro e o além-mar.

Mote – Conceito expresso em verso para ser glosado ou cantado. É também denominado tema, e podem ser de um, dois, três ou quatro versos, geralmente de sete ou dez sílabas. Sobre o Mote o poeta desenvelve a glosa, na qual figuram os versos fornecidos, juntos ou separados. Alguns estudiosos consideram a glosa como variante do vilancete e do vilancico. O vilancete era um poema lírico, galaico-português, surgido na época do Cancioneiro Geral de Garcia de Resende (1516). Compunha-se de uma estrofe (chamada mote ou cabeça) seguida de outras (chamadas voltas, ou pés, ou glosas), nas quais se desenvolvia a idéia contida no mote. O vilancico, segundo Massaud Moisés “era um tipo de canção popular correspondente, na sua estrutura, ao vilancete português: uma estrofe inicial, de dois a quatro versos (chamada refrão ou estribilho), acompanhado de uma sequência de estrofes que desenvolvem a idéia poética contida no refrão”.
Alguns Motes
A saudade é companheira
de quem não tem companhia...
Todo bem que desejo a mulher ruim
é cadeia, hospital e cemitério
De dous ff se compõe
esta cidade a meu ver Gregório de Mattos
um furtar, outro fuder
Cada dia que passa é mais um dia
de saudade, triteza e desengano. José Alves Sobrinho
Três gigantes do verso repentista
Quem quiser falar de mim
cante e grite pela rua
que eu como é na minha casa
cada qual coma na sua
Sinônimo de amor é amar,
espinha dorsal da mente

Xilogravura – Arte de origem monástica, a xilografia aplicou-se a princípio na estampagem de motivos sacros em panos e tapetes de igreja. Atraída pelo comércio profano, logo se exercitou na impressão de imagens de santos, cuja procura aumentara com o incremento dado às peregrinações pelo papa Bonifácio IX. Os romeiros compravam-nas e traziam-nas para suas casas como lembrança e atestado de presença e como objeto de culto, pois rezando diante delas ganhavam uns tantos dias de indulgência. Das figuras religiosas estenderam-se os gravadores às de baralhos, reduzidas pelo alto preço das cartas de jogar pintadas a mãos.

Das estampas chegaram os gravadores dos folhetos e opúsculos e iriam certamente adiante se a superveniência da tipografia não abreviasse a vida naturalmente curta da impressão tabulária. Segundo Rouveyre, a impressão xilográfica constitui o primeiro passo no sentido da descoberta da impressão em caracteres móveis.

As técnicas tipográficas, que, tanto quanto se sabe, eram praticadas na China desde o segundo século da nossa era e na Europa desde a segunda metade do século XIII, surgiram de outras preocupações, de um estado de espírito diferente do que provocara, na Antigüidade, a produção de selos, anéis, medalhas e moedas. Com efeito, é impossível confundir simples inscrição em metal, e mesmo em argila (como as que constituíam os livros das bibliotecas mesopotâmicas), que pertencem, sem dúvida, à arte de imprimir no seu sentimento lato, com os processos de imprensa, inventados independente das primeiras e visando finalidades completamente diversas.
Na Europa foram as primeiras impressões xilográficas que receberam o nome de impressões tabelares ou tabulares, justamente por serem feitas com o emprego de tabuinhas; é que, em flagrante contradição com o espírito mesmo da tipografia, essas impressões eram feitas em folha única, tal como a cópia manuscrita. Esses impressos, dos quais se conhecem mais de três mil, datando do século XV, reproduzem coisas aparentemente contraditórias, como imagens de santo e baralhos, além de calendários.

Essa técnica de impressão que consiste em entalhar uma chapa de madeira com goiva, formão, faca ou buril, formando um desenho. A matriz é entintada com um rolo de borracha, que só toca onde a madeira não foi desbastada. A tinta passa para o papel por pressão; os brancos da gravura correspondem aos sulcos. As gravuras de cordel do Nordeste brasileiro são feitas, em geral, com esta técnica.