segunda-feira, 6 de julho de 2009


Gutenberg e os tipos móveis


Texto: Gilfrancisco (Jornalista, pesquisador e professor universitário). gilfrancisco.santos@gmail.com
Antes da invenção de Gutenberg os livros eram todos manuscritos, copiados individualmente por dedicados monges enclausurados. Era um trabalho difícil e demorado, sendo constante a ocorrência de erros, por omissão, intenção ou desatenção. Tratando-se, no entanto de um trabalho artesanal, o livro manuscrito transformava-se às vezes, em verdadeira obra de arte.
Costumavam ser ricamente ilustrados com desenhos, adornos e pinturas coloridas conhecidas por iluminuras. Já se conheciam nessa época vários processos de reprodução gráfica, sendo a xilogravura a mais popular. Gravada com um buril e entintada como se fosse um carimbo, a matriz de madeira permitia a reprodução de sucessivas cópias do desenho original. Essa técnica era extensivamente usada, entre outras coisas, para a confecção de cartas de baralho, visto que o jogo já era naquela época muito apreciado. A imagem vinha acompanhada, muitas vezes, de um título ou texto explicativo.
Essa maneira de se multiplicar graficamente já era usada por povos primitivos, que empregavam carimbos para a decoração de tecidos, pinturas corporais e até mesmo para a reprodução de documentos. Os chineses faziam seus carimbos em marfim ou pedras preciosas. Os nativos da Polinésia prendiam varetas de bambu esculpidas na parte interna, enquanto no Brasil os índios Tukuna se aproveitavam do fruto do babaçu.
Carimbos metálicos ou mesmo de pedra também eram muito comuns antigamente, mas foi à madeira, principalmente pela sua facilidade de manuseio, o material consagrado para a reprodução em larga escala. Uma das maiores e mais antigas edições de que temos notícia foi realizada no Japão no ano 770 de nossa era. Nada menos do que um milhão de exemplares de uma oração budista foram impressos e distribuídos por templos em todo o país. Edições em grande escala foram realizadas em várias partes do mundo, mas em todos esses casos o texto era gravado integralmente numa única matriz.
Os tipos móveis - Foi à invenção do tipo móvel, no entanto, que abriu o caminho rumo à massificação do livro. O livro foi efetivamente o primeiro produto produzido industrialmente pelo homem. O responsável por essa invenção foi Johann Gutenberg, considerado o pai da imprensa e do livro moderno.
Seu invento consistia basicamente em produzir matrizes separadas de cada letra, de modo que pudessem ser usadas repetidas vezes. Com um mesmo conjunto de tipos era possível compor infinitos textos diferentes. No início, Gutenberg tentou produzir tipos de madeira e depois de chumbo, mas nenhum desses materiais atendeu às necessidades de uso. A tipografia só deu resultados satisfatórios quando os tipos passaram a ser fundidos com uma liga de antimônio e estanho, que possuía a dureza adequada para imprimir sem marcar o papel. Esse novo processo de reprodução de textos tornou o livro acessível a todos, democratizando a informação e o conhecimento.
Em pouco tempo milhares de títulos entraram em circulação, permitindo um intercâmbio de novas idéias sem precedentes até então. Era o fim da Idade Média e início do renascimento.
Outros impressores – Além de Gutenberg, vários outros impressores merecem ser lembrados: Lorenzo Caster, Parifilo Castalti e Johann Mentel. Todos são considerados pioneiros das artes gráficas, especialmente na área da impressão tipográfica.
A tipografia é a arte conservadora de todas as artes, pois foi através dela que o homem registrou e difundiu a todos o seu saber. Esse processo de reprodução foi a base da indústria do livro até o século passado, quando novas tecnologias começaram a surgir.
A impressão tipográfica, no entanto, ainda tem o seu espaço garantido nos dias informatizados de hoje. Parece contraditório, mas no mundo inteiro cresce o número de artistas interessados em resgatar e preservar essa antiga tecnologia. Estamos de certa forma testemunhando o fim da “Era da Impressão”. O computador está ai, e não podemos ignorá-lo. Como instrumento de comunicação é certamente mais rápido eficiente e barato do que o livro. Mas quem lê, conhece o prazer de segurar um volume nas mãos. Sabe que o livro tem cheiro, sabor e textura, por isso é um companheiro insubstituível.
A Imprensa – Graças ao papel foi possível, de início, atender-se facilmente a essa demanda. Mas ela continua crescendo e com isso as dificuldades de atendimento. Até que em meados do século XV, na cidade de Mogúncia, graças a Gutenberg, que imprimiu a famosa Bíblia latina, de 42 linhas, surgiu a imprensa que veio facilitar a reprodução e multiplicação do livro, ao libertá-lo da cópia manuscrita.
Tanto a imprensa como o papel, tiveram a sua origem na milenária e culta China que, contudo, teve que abandonar o seu primeiro lugar na história do livro por não ter sido capaz de adaptar sua escritura simbólica alfabética, de fecundidade prodigiosa.
Três idades históricas foram, pois, necessárias, para a criação do livro em sua forma atual: a Idade Antiga idealizou o códice: a Idade Média apresentou o papel como material para a escrita e a Idade Moderna nos deu a imprensa. Durante os tempos modernos o livro sai ganhando paulatinamente setores mais amplos, por conseguinte, atingindo as camadas sociais menos favorecidas. Deixa de ser patrimônio exclusivo da igreja, dos reis e da alta nobreza: passa às casas da pequena nobreza e da alta burguesia, para alcançar depois a classe média. Finalmente, no século XIX, à medida que os processos técnicos de impressão e fabricação do papel permitiram maiores tiragens e progressivo barateamento, atinge as classes populares.
Foi crescendo de tal forma à demanda de livros nos tempos modernos (o aumento da informação determina o aumento da procura de mais e mais fontes de informações) que, do lado da forma normal, logo surge e se consolidam, no século XVIII, outra forma de livro, as publicações periódicas: revistas científicas e noticiários, que no século XX as cristalizaram no jornal diário e na revista ilustrada de caráter geral.
A Imprensa no Brasil – O primeiro jornal brasileiro surgiu mais de três séculos depois do seu descobrimento, mesmo assim a história da nossa imprensa é cheia de episódios originais e outros arbitrários. Como as sucessivas prisões de Cipriano Barata, tantas quantas foram às vezes que seu jornal saísse á rua, ou o estranho método do Diário do Rio de Janeiro, publicava somente o que a população escrevia e depositava nas caixas espalhadas pela cidade, sendo recebidas até às 16h, pois às 20h o jornal aparecia impresso.
Era o contrário do que ocorreu na América espanhola, que conheceu a imprensa e a universidade ainda no século XVI, pois para eles ainda era necessário substituir as culturas avançadas dos astecas e incas, já que uma dualidade de culturas representava graves riscos à dominação.
Assim como a história do Brasil que se inicia em Portugal; a história da imprensa brasileira tem origens em nossos descobrimentos pelas próprias condições das colônias que constituíam um obstáculo ainda maior ao advento da imprensa, na qual dominava o escravismo, não gerava as exigências à sua instalação. Houve, entretanto nos primeiros anos do século XVII, algumas tentativas de implantar as primeiras tipografias no Brasil, chegando a ser instalada em 1706 no Recife, mas a carta Régia de 8 de junho determinou seu fechamento, fim idêntico teve outra tentativa, quando Antonio Isidório da Fonseca teve o privilégio de possuir uma tipografia criada em 1º de abril de 1747 no Rio de Janeiro, tendo a mesma duração efêmera, e limitadíssima foi a sua produção.
Em 22 de janeiro de 1808 chega a Salvador o Príncipe Regente, assinando no dia 28, decreto abrindo os portos brasileiros ao comércio internacional. Já a 8 de março, D. João VI e a Corte desembarcam no Rio de Janeiro que, mais do que qualquer outra cidade brasileira, sofrera o impacto das transformações. A imprensa brasileira surgiu finalmente por iniciativa oficial do Conde de Linhares, com advento da Corte e mesmo assim por acaso, quando foi informado da existência de um material gráfico que se encontrava instalado no porão da casa de Antonio de Araújo. O fato levou D. João determinar que toda residência passasse a servir de Imprensa Régia, através de decreto de 13 de maio desse ano, cujo fim era de publicar documentos oficiais, podendo também imprimir qualquer outra obra, desde quando submetida à rigorosa censura, para que nada fosse publicado contra a religião, o governo e os bons costumes. Nada sairia impresso sem o exame prévio dos censores reais, assim nasce à imprensa no Brasil sob severa vigilância. E publica-se neste dia o primeiro trabalho (livro), 27 pp. 20,5 x 30, editado pela Impressão Régia, e a 10 de setembro desta mesma oficina, o primeiro número da Gazeta do Rio de Janeiro, era imprensa oficial e se preocupava apenas com o que acontecia na Europa.
Deste mesmo ano é o Correio Brasiliense, editado em Londres, que foi perseguido desde o primeiro número, circulando até dezembro de 1822.
Liberdade – O problema da liberdade volta a ser colocado quando do retorno da Corte a Portugal em 1920 e somente circulava no Brasil a Gazeta do Rio de Janeiro e a Idade d’Ouro do Brasil, na Bahia, pois todas as tentativas de existência de uma Imprensa não subordinada ao pensamento da metrópole eram totalmente reprimidas.
A 1º de junho de 1821 aparece o Diário do Rio de janeiro, primeiro jornal com característica de informação, era distanciado dos problemas políticos, não servia à causa do dominado, nem ajudada aos movimentos de libertação. Essa fase da Imprensa é a que melhor caracteriza a adversidade das condições políticas para o seu estabelecimento definitivo, pois muitas tipografias haviam se instalado no Brasil.
Apesar das condições materiais que começavam a surgir eram insuficientes para permitir o aparecimento do periodismo regular. A 4 de agosto deste ano surge na Bahia o primeiro periódico a lutar pelos interesses brasileiros, era o Diário Constitucional, que defendia a renovação da Junta Provisória com a substituição dos seus integrantes portugueses por maioria dos brasileiros.

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