segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Baladas, Palavras e Outonos - Por Gilfrancisco Santos


Baladas, Palavras e Outonos


GILFRANCISCO; jornalista, professor da Faculdade São Luís de França e membro do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe


Será lançado no Tribunal de Contas do Estado de Sergipe, Espaço Cultural Ministro Carlos Ayres de Brito, no dia 12 de novembro, às 11 h o DVD duplo “Baladas, Palavras e Outonos”, de autoria das poetisas Carmelita Fontes, Gizelda Morais e Núbia Marques, com apresentação de Luiz Eduardo Oliva, Diretor Presidente/Segrase. O livro é mais um lançamento da Editora Diário Oficial, comemorativo da passagem dos dez anos da morte da escritora Núbia Marques (1927-1999).

Afirmam alguns que o ato de criação poética é vista como o correlato da sedução que prepara o ato amoroso em si. Na verdade, os caminhos de Gizelda Morais, Carmelita Fontes e Núbia Marques pela criação artística, a um só tempo simples e ousados, renovadores e rotineiros, sagrados e profanos, vivem a nos desafiar, a intrigar público e crítica. E porque não dizer; uma poesia ardente e carinhosa que nos ampara com toda a felicidade do mundo.

Em 1960, Austrogésilo Santana Porto publica O Realismo Social na Poesia em Sergipe, um estudo regional importante focalizando a poesia sergipana no Movimento humanista revolucionário que tem em José Sampaio o seu mais lídimo representante, inclui na segunda parte do estudo denominado de Os Novos, duas jovens poetas: Gizelda Morais e Núbia Marques. Sobre a primeira diz ser “seu maior anseio é o amor humano, essa necessidade de compreensão para a superação de tudo que origina a angústia ou a tristeza nos corações humanos.” E sobre Núbia não poupa à análise “a verdade é que parece ser esse espírito da solidariedade humana que lhe conduz os passos para o realismo social. Assim, sua poesia se torna cada vez mais profundamente humana, num anseio crescente de fraternidade”.

A criação poética das três poetas, que representam em Sergipe e nacionalmente, a consolidação do Modernismo literário feminino, se afirmou com a publicação de livros individuais e projeção na área da produção cultural no estado, quer como jornalistas militantes em periódicos ou membros de entidades literárias, como o Movimento Cultural de Sergipe, Clube Sergipano de Poesia e Academia Sergipana de Letras.

“Baladas, Palavras e Outonos” impõe também emoções, cuja linha musical da obra; trata do sofrimento, do amor, da solidão na forma mais elevada da expressão e da análise artística. Há muito tempo a nossa poesia feminina tem sido sacralizada por essa trinta de ouro, que chegam com todas as palavras, baladas e outonos. O que mais surpreende nesse livro é à força da tríplice aliança, que as une aos poemas como num só grito. Essa trinca marcou presença no panorama da poesia em Sergipe, um novo continente que renasce das sombras rápidas do passado para descobrir os seus ignorados tesouros, no momento que se comemora dez anos do desaparecimento de Núbia Marques.

Todas as três poetisas cultivaram a fama de conquistar sua liberdade, de afastar-se do convencional, impulsionadas por um amor profundo, que contestava a produção artística e cultural dominante no país. Temos em mãos um livro que o leitor de poesia não pode desconhecer.


Trevas - Núbia Marques



Que angústia é essa
sem pouso nem regaço?
Que medo é este
que alarma as primeiras horas da manhã?
Que dor é esta
que traz no seu desatino os nati-mortos do amor!
Flores espalham-se entre assombros
A espada é mais que lírio
As árvoes despidas,
mendigas do carinho
plantadas no chão das madrugadas
morrendo antes da primavera


Que homens são estes
que têm na mão o estigma da morte?
Que agonia é esta
assanhada por ventos perplexos?
Que desengano é este
que arrasta consigo as trevas da voz
paridas pelo caos:

É a noite poeta
E a morte sem termo
o desespero o terror

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