segunda-feira, 22 de novembro de 2010

O JORNALISTA, AYDANO COUTO FERRAZ

GILFRANCISCO - Jornalista, professor da Faculdade São Luís de França e membro do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe. gilfrancisco.santos@gmail.com


Jornalista e poeta baiano, nasceu Aydano Pereira do Couto Ferraz em Salvador a 9 de agosto de 1914. Diplomado em Ciências e Letras, no antigo Ginásio da Bahia e em Ciências Jurídicas e Sociais em 1937 na Faculdade da Bahia, foi um dos integrantes da Academia dos Rebeldes, agremiação literária fundada em Salvador no ano de 1930, da qual faziam parte: Jorge Amado, Édison Carneiro, Guilherme Dias Gomes, Otávio Moura, Sosígenes Costa, João Cordeiro, José Bastos, Dias da Costa, Walter da Silveira e outros. Em 1939, fixou-se no Rio de Janeiro onde se dedicou ao jornalismo, tendo ocupado, entre outros cargos o de editor do O Jornal, durante a segunda guerra, e o de coordenador da redação do Correio da Manhã.
Em 1942 foi técnico em assuntos educacionais do MES e técnico de comunicação Social do MEC. Editou as revistas Educação e Ciências Sociais (1959-1962) e Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos (INEP-MEC), ambas em suas últimas fases. Durante a atividade literária na Bahia e no Rio de Janeiro, colaborou no Boletim de Ariel, de Gastão Cruls e Agripino Grieco, na Revista do Brasil (III fase) de Octavio Tarquínio de Souza e Aurélio Buarque de Holanda, na Revista do Arquivo Municipal do Departamento de Cultura de São Paulo (1939-1941), no Dom Casmurro, em Diretrizes, na Revista Acadêmica, em Esfera, Vamos Ler, Convivium, Flama, Seiva e n’O Estado de São Paulo, n’O Estado da Bahia, onde foi um dos seus redatores. Na verdade, Aydano colaborou em quase todas as revistas literárias de relevo ou editadas por jovens, além de trabalhar na editoria de economia e geografia da Enciclopédia Mirador Internacional, figurando naquela publicação como um dos seus assistentes técnicos.
Ainda em Salvador, publicou em 1932 as novelas praieiras Apicuns, no dizer do crítico Carlos Chiacchio “são pequenas represas da água do mar, escondidas entre as matérias, a fulgurarem sob o sol, como uns(“ rostos de jóia sempre pulverizada e sempre recomposta...”) Aos seus vários trabalhos de ficção, novelas, no melhor dos títulos, chama-lhes de Apicuns, Aydano Ferraz. Desde logo é de ver que se trata de um escritor regionalista. A vida pitoresca dos praieiros enche-lhe as páginas de surpresas ingênuas, observações felizes, tocantes enredo. É um desfile tranqüilo de tipos do mar. Do mar – encantamento e perdição dos pescadores. Do mar – poesia e tragédia dos namorados. Do mar – alegria e esperança dos poetas. Quando se abrem, as primeira folhas datilografadas dos Apicuns sente-se já que um pintor de marinhas está ali a nos surpreender com as suas distancias verdes de águas e os rebuliços brancos de espumas nas praias.”
Em 1935, Aydano lança o livro de poemas Cânticos do Mar, onde o jovem poeta idealista traça um panorama da realidade. Apaixonado pelo mar, contemplativo “que, mesmo na hora mais trágica por que já passou a humanidade, não cora ao afirmar”, segundo o amigo Édison Carneiro:

Esta aletria de rever o mar sem tempo para a contemplação.
De vê-lo serenamente enquadrado no horizonte,
limpo de velas, de mastros e de ruído das dragas do porto.
- Um mar soberano, sem a vassalagem das ondas...
Afastado durante bastante tempo da seara das letras, para dedicasse ao Partido Comunista, publica em 1983 mais um livro “ Os poemas Perdidos e seu Reencontro” , belos poemas datados da Bahia, 1936, do Rio de Janeiro, 1938 e outros de Brasília, 1983, onde vamos encontras a presença do mar da Bahia, do amor e da esperança. São poemas românticos, afetivos cheios de intensidade. O seu amor aos homens, à justiça e à liberdade, esteve sempre presente em seus textos.
Portanto, Aydano Pereira do Couto Ferraz se realizou amplamente como jornalista, foi diretor de jornal e revistas, mas sobretudo poeta. Teve em vida duas grandes vocações a poesia e a política. E assim ficou a vida inteira, fiel à sua condição inicial, à sua primeira vocação.

A poesia não morre.
Si uns poetas fazem títulos
e abandonam a musa num canto de redação
é natural que ela fuja e se revele adiante.
De manhã outros poetas recolherão a poesia
andando nas ruas calmas
como ela andava de noite nos tempos do romantismo.

Juntamente com Edison Carneiro e Martiniano Bonfim assinam o prefácio do livro O Negro no Brasil, publicado pela Editora Civilização Brasileira, 1940, resultado dos Anais do 2º Congresso Afro-Brasileiro, realizado em Salvador entre 11 a 20 de janeiro de 1937. Aydano assina ainda neste livro, o texto “Castro Alves a poesia negra da América”. O escritor baiano faleceu em 1985.
Publicações:

Apicuns. (novelas praieiras). Salvador, 1932
Cânticos do Mar. A Gráfica, 1935.
Pequena História da Caricatura no Brasil, 1942.
Os Poemas Perdidos e seu Reencontro. Rio de Janeiros, Editora Civilização
Brasileira/INL, 1984. (texto: Enio Silveira).
A Luta do Símbolo. Belo Horizonte, 1985.

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