GILFRANCISCO: jornalista, professor universitário e membro do Instituo
Histórico e Geográfico de Sergipe e do Instituto Geográfico e Histórico da
Bahia e Diretor do Departamento de Imprensa da ASI;
A revista Arco & Flexa
(1928-1929), mensário de cultura moderna: letras, artes, ciências e crítica,
teve rápida duração. O periódico apresenta um formato de livro, medindo 23X16
cm, sendo a mancha de 16X11,5 cm., com indicação de página. Obedecendo ao
espírito moderno, o periódico traz um material bem acabado e cuidadosamente
elaborado por seu diretor, Pinto de Aguiar, cuja redação ficava em sua própria
residência, Rua Santo Antônio, 104.
Seu primeiro número aparece em novembro de 1928, contendo sessenta e seis
páginas; o número 2/3 (número duplo), dezembro, 1928, janeiro, 1929, setenta
páginas e o último volume também duplo, 4/5, setenta e sete páginas, lançado
neste mesmo ano, sem indicação do mês. A
revista era impressa pela Nova Gráfica da Bahia, e a escolha do título, Arco
& Flexa, dava um caráter de nacionalismo brasileiro.
O grupo inicial era formado por Eurico Alves, Carvalho Filho, Hélio
Simões e Pinto de Aguiar, que dirigia o periódico e realizava as reuniões em
sua residência – Santo Antônio Além do Carmo. Também habitualmente se reuniam
no Café das Meninas, onde se propunham o grupo a introduzir o modernismo na
Bahia, sem, todavia, abandonar o passado que tinha no parnasianismo a sua
linguagem poética dominante: “Na verdade a revista não refletia o que
habitualmente se considera um grupo literário, uma vez que eram flagrantes as
diferenças de cultura e de sensibilidade manifestadas pelos que nela
colaboravam.”
Por exemplo, Carlos Chiacchio oriundo da Nova Cruzada, se colocará como
crítico e teórico na revista Arco &
Flexa, procurando acertar o passo com as inovações, tentando ligar-se a
Festa, do Rio, e a Verde, de Cataguases-Minas. Mas a forte carga de uma
tradição oprimia consideravelmente o próprio líder do grupo, que trouxe consigo
antigos neo-cruzados como colaboradores: Arthur de Salles, Roberto Correia e
Silva Campos.
Chiacchio foi um dos colaboradores da revista Festa, com o artigo “Modernistas e Ultramodernistas. A Reação
Subjetivista Brasileira”, publicado anteriormente em 13 março de 1928, no jornal A Tarde. O artigo se
refere à “mentalidade baiana”, que se opõe a qualquer tipo de inovação, atitude
que tem um aspecto positivo, que é o de preservar a tradição brasileira.
Contudo o autor se queixa do silêncio da Bahia diante das inovações literárias,
sobretudo as do Rio e de São Paulo. Refere-se elogiosamente do movimento
realizado pelo grupo de Festa. Outros membros da revista Arco & Flexa, colaboram em Festa:
Arthur de Salles, Carvalho Filho, Eugênio Gomes, Godofredo Filho e Ramayana de Chevalier.
Carlos Chiacchio também aparece na revista Verde, nº 1 (segunda fase), número em homenagem ao poeta Ascânio
Lopes (1907-1928), com o artigo “O Mal do Parnasianismo. Três Poetas” . É um
estudo crítico dos livros de três poetas: Roberto Gil, do Rio, Verbo das
Sombras; Ernesto de Albuquerque, de Pernambuco, Intermundios; e Rosário Fusco,
de Minas, Fruta de Conde.
A revista Arco & Flexa
traz em seu primeiro número um artigo manifesto, “tradicionismo dinâmico”,
assinado por Carlos Chiacchio, que não significa a idéia do grupo, e sim de um
dos componentes deste, orientador e patrono.
“Chiacchio tinha 50 anos por esta época, eu 17, Carvalho 20, éramos
todos moços, fez-se, então, a liderança de Chiacchio. Foi uma coisa natural,
espontânea.” O artigo propõe a renovação da literatura na Bahia, libertação das
influências européias e lançamento da idéia do “tradicionismo dinâmico”. De
qualquer forma estes propósitos serviram de ponto de partida, não só para os
jovens integrantes de Arco & Flexa, bem como para eventuais
colaboradores. Vejamos um trecho do
manifesto:
“Não há povos sem tradição. O próprio sentido de viver é uma tradição.
Se viver é continuar, é permanecer é transmitir. A vida nacional de cada povo
na vida universal de cada época. Quanto a nós, não sei como desconhecer uma
tradição, uma vida, uma continuidade.
Belas, ou feias, boas ou más, tristes, ou alegres, as origens da nossa
tradição, resultante somático de três raças unidas no momento em que cresciam
para o desejo da mortalidade, não há que repudiá-las em nome de outras
probabilidades de beleza, que podem existir, como existem, para outros povos,
mas, para nós, não têm ‘préstimo, porque contrarias às leis do nosso
desenvolvimento na história. Sente-se que
a resistência as inovação da cultura, nas sua várias modalidades, é um feito de
nosso gênio, radicalmente misoneista. É um erro das elites do passado, que nós
herdamos por interesses circunstanciais da conservação de prestígio a únicos,
esses preconceitos contra as idéias novas, gerais, estranhas.”
Segundo o poeta Carvalho Filho, o grupo Arco & Flexa sofreu na sua concretização de idéias, fortes
influências não somente de Carlos Chiacchio, tido como homem de grande cultura
e amadurecimento literário, mas também de Eugênio Gomes, autor de Moema,
publicado no primeiro semestre de 1928. Moema é um poema “claro, ventilado,
azul, impregnado do melhor sentimento da tradição baiana. Captado, porém, a luz
de ângulos novos de nossa realidade cultural. Um livro que integra a grande
obra posterior – em sua maior parte de crítica e estudos literários – do nosso
baianissímo Eugênio Gomes.”
O certo é que a Bahia ficou nos anos vinte muito prejudicada no que diz
respeito a vida cultural e social, por causa da comunicação, que eram feitas
por via marítima: livros, revistas e jornais, levaram mais de um mês para
chegar do Rio de Janeiro e São Paulo. E tudo isso nos levam a acreditar o
porquê da posição conservadora do grupo de Arco
& Flexa. Pois o ambiente baiano não propiciava as inovações, bem como a
revista tinha “propósitos independentes.”
Para sobrevivência do periódico mantinha a revista Arco & Flexa, vários anunciantes, de médicos, advogados,
dentistas, livrarias e outros tipos de classificados, que de um número para
outro da revista, aumentavam quantativamente, o que não se explicaria a sua
súbita interrupção.
Outro fato importante é que o periódico mantinha um número considerado
de assinantes. O que realmente teria acontecido? A revista não teria sido bem
aceita pela comunidade intelectual na época? Existiu de fato cisões internas no
grupo “modernista” ou teria realmente causado um escândalo o aparecimento da
revista, por trazer propostas de equiparar a Bahia as idéias vigentes no Rio e
São Paulo. A publicação de Arco & Flexa causou uma reação violentíssima,
apesar da idéia do grupo em querer “... ir para adiante, mas sem renegar o
passado”
A própria crítica do Sul do país, não só registra o seu aparecimento,
como também escreve vários artigos analisando o movimento literário baiano, os
quais são publicados na revista Arco & Flexa. Segundo Hélio Simões a
revista dava prejuízo, “não se vendia nenhum exemplar e quando acabou o
dinheiro, fechou-se a revista.”
A revista era financiada por Pinto de Aguiar, que mais tarde, nos anos
quarenta, procurou desenvolver e difundir, através da editoração, a cultura
baiana com a Livraria Progresso Editora, a qual durante o período de sua
vigência publicou trabalhos importantes que até hoje ilustram as letras
baianas.
Colaboraram na revista: Pinto de Aguiar (Medeiros de Albuquerque),
Agripino de Alcântara, Pedro A. de Alcântara (Renato de Almeida), Francelino de
Andrade, Eurico Alves, Raul Bopp (Osório Borba), Samuel Campelo, J. da Silva
Campos, Carvalho Filho, Ramayana de Chevalier, Carlos Chiacchio, Rafaelina
Chiacchio, Roberto Correia, Damasceno Filho, Erasmo Júnior, Hildeth Favilha,
Cavalcanti Freitas, Godofredo Filho, Eugênio Gomes, Jaime Gryz, Francisco
Hermano, Pinheiro de Lemos, Herman Lima (Sud Menucci), Jonatas Milhomens, José
Queiroz Júnior, Arthur de Salles, Castelhar Sampaio, Hélio Simões, Lafaiete
Spinola, J. Teles (Nestor Vitor).
Um comentário:
o instituto sócio educacional solidariedade apoio o incentivo a leitura e ao conhecimento da cultura sergipana
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